segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Grandes varejistas seguram juros para manter vendas

Para atrair clientela, lojistas têm redução na margem de lucroRodrigo Petry e Ana Paula Ribeiro – AE
As redes de varejo que possuem parcerias com instituições financeiras têm conseguido oferecer aos seus clientes condições de financiamento similares às existentes no período pré-crise para manter as vendas aquecidas até o final do ano. Com acesso a recursos, essas varejistas puderam manter os prazos de parcelamentos e em muitos casos as taxas de juros, mesmo sacrificando as margens.
"Estamos mantendo os mesmos prazos de financiamento e taxas para todos nossos produtos", afirmou na semana passada o diretor-executivo da Casas Bahia, Michel Klein. A maior rede varejista de eletroeletrônicos do País oferece financiamento por cartão administrado pelo Bradesco. "Nessa hora você tem que sacrificar as margens", diz o diretor-gerente do Bradesco, Paulo Isola, referindo-se a um dos seus principais parceiros.
Nos últimos 12 meses, a base de clientes com cartões das Casas Bahia aumentou em um milhão de usuários, atingindo 5 milhões de unidades emitidas em setembro. A participação do cartão sobre as vendas é de 50%, sendo metade com o cartão próprio. Com esse plástico, é possível parcelar as compras em até seis vezes sem juros. Entre sete e 11 parcelas, a taxa é de 1,08% ao mês e de 12 vezes a 24 vezes, de 3,24% ao mês, juros já praticados no início do segundo semestre.
Risco de crédito
O diretor-geral da Bradesco Cartões, Marcelo Noronha, explica que a instituição observa o risco de crédito dessas operações. "Fazemos isso de maneira recorrente e o Brasil evoluiu muito nessa área. Esses fatores me levam a crer que o crédito ao consumo em um prazo de até 24 meses será pouco afetado", afirma.
Além de Casas Bahia, a instituição financeira possui parcerias com as redes Comper, Carone, Dois Irmãos, G. Barbosa, Coop, LeaderCard, Luigi Bertolli, Drogasil, O Boticário e Colombo, entre outras. Só em private label são 12,9 milhões de clientes. Conforme Noronha, em algumas operações houve uma elevação marginal da taxa de juros. "Um inibidor de crescimento da taxa de juros é a própria concorrência, que não efetuou elevações expressivas."
Na concorrência, os parcelamentos sem juros chegam a 15 vezes. Esse é o caso do Extra, do Grupo Pão de Açúcar, que ofereceu essas condições em novembro para determinados produtos nas compras feitas com o cartão da rede, emitido em parceria com a Taií, financeira do Itaú. Já o Carrefour manteve o parcelamento em 12 vezes sem juros no departamento de eletroeletrônicos no plástico próprio, em que 40% da administração do produto pertence à Cetelem, financeira da BNB Paribas.
"As maiores redes, que são associadas a bancos, estão conseguindo segurar o repasse nos juros cobrados dos consumidores", explica o CEO da empresa especializada em inteligência de mercado Shopping Brasil, José Roberto Resende.
Prazo médio
Uma pesquisa da consultoria apontou que ocorreu uma elevação nos prazos médios oferecidos pelas redes de varejo após o acirramento da crise de crédito, que passaram de 183 dias em média em agosto para 194 dias em novembro. O levantamento, feito com base em anúncios promocionais de 300 redes em todo País, também mostrou uma elevação marginal nos juros. Nos parcelamentos entre nove e 12 vezes, por exemplo, a taxa passou 4,48% no final de agosto para 4,61% na primeira quinzena de novembro.
Segundo Resende, essa elevação está concentrada nas redes que não possuem parcerias com instituições financeiras e por essa razão têm dificuldade em obter linhas de crédito para oferecer aos consumidores. Outra vantagem nas parcerias, explica ele, é que as varejistas conseguem oferecer melhores condições no financiamento por meio do cartão próprio e dividem o risco de inadimplência com a instituição financeira.
Com base nos dados do Shopping Brasil, a média de juros cobrados ao mês nos financiamentos pagos com cartão é de 3,54%, enquanto nos carnês ou cheques atingiu 6,01%. "As taxas nos cartões são mais competitivas tendo em vista o menor risco de inadimplência, menor custo operacional e ainda a busca de maior fidelidade deste consumidor", afirma Resende.
Essa diferença é vista nas Casas Bahia. Enquanto o parcelamento com o cartão próprio, administrado pelo Bradesco, varia entre sem juros a até 3,24%, a taxa média cobrada no financiamento com carnê é de 4,9%, podendo chegar a 6,3% em alguns planos. Nas vendas feitas com o tradicional carnê, a varejista atua com recursos próprios, o que justifica a taxa maior e também a suspensão da promoção "juros pela metade", que era oferecida na venda de determinados produtos antes do agravamento da crise.
Promoções suspensas
No caso das redes varejistas que administram sozinhas a área de financiamento, houve elevação nos juros e algumas promoções foram suspensas. A Lojas Riachuelo eliminou as vendas com o primeiro pagamento em 100 dias. O gerente de Relações com Investidores da Guararapes, controladora da varejista, Tulio Queiroz, explicou que essa medida reflete uma política mais conservadora da companhia para a concessão de crédito. A rede elevou a taxa média de juros a partir de outubro de 5,9% para 6,9%.
Outra varejista que elevou os juros foi a Lojas Renner. A empresa subiu a partir de 15 de outubro suas taxas de juros mensais de 5,99% para 6,99%, para as compras parceladas acima de cinco parcelas. A companhia informou que manteve as parcelas para compras em até cinco vezes sem juros.
Para o analista da Lopes & Filho Consultoria, João Augusto Salles, é natural essa elevação dos juros. "É uma defesa em relação à possibilidade de aumento da inadimplência. O volume das operações pode até cair, mas isso será compensado pelo spread maior", afirma, lembrando que esse aumento do spread torna a operação mais rentável aos financiadores.Fonte: Agência Estado

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